terça-feira, 2 de agosto de 2011

A Espera da Escuridão

Repercutimos hoje, texto publicado no dia 31 de julho de 2011, no BLOG: www.contosdapoliana.blogspot.com . Vale a pena conferir!!!

Poliana estava apreensiva. Corria a boca pequena de seus invejosos críticos, boatos de que dias piores viriam a assombrar a rainha. Falava-se de um tal “agosto negro”. Que coisa grotesca e assustadora poderia se esconder nessa profecia? Poliana esperava que a incessante e monótona chuva que voltara a cair sobre o reino lavasse de vez a imagem de seu reinado democrático e popular. Nada poderia ser mais negro que o chorume que escorria impunemente em seu transparente império. Poliana, a destemida, já passara por todos os apuros possíveis e imagináveis nesse curto período de soberania. Estava convicta que munida de sua invejável coragem e cara-de-pau conseguira colocar não uma, mas centenas de pedras sobre a carniça. Trocara pardais e furões por um meio mais barato e auto-sustentável de controle de tráfego. Agora seus súditos se obrigavam a reduzir a marcha para desviar dos fartos buracos que revestiam as ruas. Projeto é claro, idealizado pela mente engenhosa de sua alteza. Já pensava até em oferecer consultoria para o caro e seleto grupo de engenheiros que os contribuintes estavam pagando para solucionar os problemas que a rainha e sua fiel corte haviam criado no trânsito desse incrível reino. O seu reino! O reino da fantasia. Um pequeno campo repleto de oportunidades para oportunistas com muita lábia e pouca vergonha. Nesse reino, nada de negro poderia turvar a visão míope de seus súditos. Para cada escura nuvem de denúncias que cobrisse seu reinado, Poliana lançava migalhas de recursos públicos, com muita purpurina e lantejoula, nas festivas apresentações de sua domesticada Orquestra Partidária (OP). No inacreditável reino de Poliana, o negro e fétido lixo sempre poderia ser varrido, a altos custos, para baixo dos escarlates tapetes reais. Não! Poliana estava convicta. Nada de negro poderia infestar e encobrir seu cristalino reinado no mês do cachorro louco. Poliana não temeria as lúgubres e funestas profecias vazias. A incandescente rainha venceria qualquer escuridão. Só mesmo o austero breu da toga de Justiça ainda causava calafrios em Poliana. Mas Justiça, até os tolos sabiam, tinha um manto escuro a lhe vendar os olhos, por isso sua alteza poderia dormir tranqüila, sem temer as sombras que povoam os sonhos de seu povo.

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