Futuros
sócios de emissoras de radiofusão precisam comprovar não enfrentar processos
cíveis e criminais. Especialista critica possibilidade de parlamentares serem
donos das empresas.
Entre as exigências para evitar o uso de “laranjas” nas licitações para concessões de rádio e TV, o governo federal incluiu obrigação de que os donos das empresas de radiodifusão comprovassem não ter o nome “sujo” e estar com a ficha limpa de processos criminais e cíveis. O decreto 7670/12 foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) na última terça-feira (17) e obrigou os futuros sócios a apresentarem balanços mais detalhados, parecer de dois auditores independentes sobre a capacidade técnica-financeira do projeto e a pagarem, à vista, o valor da outorga da futura emissora. Ao mesmo tempo, o governo usou a nova norma para manter a interpretação segundo a qual deputados e senadores podem ser donos de televisões e rádios, inclusive aqueles que compõem a base aliada no Congresso.
Para participar de uma licitação de radiodifusão, os donos e
diretores deverão mostrar certidão negativa de protesto dos cartórios nas
cidades onde moraram ou exerceram atividades econômicas nos últimos cinco anos.
Antes, a obrigação se restringia aos dirigentes. Sócios e diretores também
deverão apresentar certidões negativas cíveis, criminais e eleitorais dos
tribunais nas mesmas cidades. O decreto diz que, caso as ações não tenham
terminado, deverá haver uma certidão de inteiro teor para comprovar esse fato,
mas não fica claro se os donos das emissoras poderão participar enquanto não
forem condenados. A assessoria do Ministério das Comunicações não esclareceu
este ponto do decreto.
As medidas fazem parte de um conjunto anunciado pelo governo
para evitar a ação de especuladores e laranjas nas disputas por concessões de
rádio e televisão. No ano passado, o jornal Folha de São Paulo mostrou que
“laranjas” eram usados como donos de rádios e TVs no Brasil. Para o especialista em concessões de radiodifusão e professor da
Universidade de Brasília (UnB), Venício Lima, o decreto do governo é uma
reposta a esses fatos conhecidos de muito tempo, mas até então nunca provados.
Venício elogia as medidas anunciadas, mas lembra que, sem
fiscalização, elas não terão poder algum. Além disso, reclama do fato de o
governo se preocupar apenas com aspectos técnicos, ignorando o tema político
por trás das concessões, a falta de democratização dos meios de comunicação e a
permanência de parlamentares no comando das emissoras.
O próprio decreto reforça pensamento do governo sobre essa
polêmica. A Constituição proíbe que deputados e senadores sejam donos de rádios
e TVs, apesar de o Ministério das Comunicações entender que a restrição é
apenas de que sejam “dirigentes” das empresas. Na mesma linha, o decreto do
governo diz que só os dirigentes, e não os sócios devem comprovar não exercerem
mandato parlamentar ou cargo que lhes dê foro privilegiado, como prefeitos,
governadores, secretários, ministros e presidentes.
Para Venício, a nova norma repete interpretação equivocada.
Para ele, a Constituição impede que políticos tenham concessões de rádio e TV
para impedir distorções na corrida eleitoral entre os que têm e os que não têm
acesso privilegiado aos meios de comunicação. “Não resolve a questão, não
inova”, critica Venício.
A Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão
(Abert) comemorou o decreto, por retirar especuladores e atravessadores dos
processos de licitação. A assessoria do Ministério das Comunicações disse que a
pasta não poderia esclarecer o assunto até o fechamento desta reportagem.
Fonte: Site Congresso em Foco (Por: Eduardo Militão)
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